



Maurício Zouein (UFRR)
Corpo e semiótica na identidade imagética da Amazônia
Quarta-Feira, 02/07 às 14h30
Auditório Nicolau Sevcenko - Prédio de Geografia e História
Mediação: Alexandre Marcelo Bueno (UPM)
Carol Velasquez
(artista, pesquisadora e mediadora)
O despertar dos corpos espíritos

Maurício Zouein (UFRR)
Corpo e semiótica na identidade imagética da Amazônia
Autênticos monumentos-documentos, as imagens na e da Amazônia brasileira correspondem a ferramentas de construção da condição científica da memória. Por meio do corpo daqueles que foram representados imagéticamente encontramos expressões visuais profundas e poéticas que surpreendem na manifestação do esforço em civilizar. Tais imagens revelam na Amazônia os ângulos de dinâmica civilizatória mais impressionantes. Sente-se nos no consumo da imagem do corpo a diretriz da prática social. Pela escolha das cenas, percebe-se que o olhar daqueles que produziram imagens se comoveram diante das cores da gente daqueles lugares, dos mistérios míticos, da história se revelando, da estranha malícia sedutora que habita como um símbolo o âmago da verdez amazônica. Na exposição do momento, a realidade se pôs em desfile. Presunçosa à frente da máquina e do seduzido. Detentora da memória criada, fruto da tecnologia capaz de subverter a verdade, recriar a verdade ou se colocar como verdade, a produção imagética passou a ser uma demanda social. Ela nasce da necessidade de se ver, de ver o outro. O consumo oportunizou a reprodutibilidade que, por sua vez, ofereceu a conveniência da interpretação no tempo e espaço do outro. Em oposição ao unicum, característico da obra de arte, a acessibilidade módica da fotografia ganha espaço rapidamente. A Amazônia foi exposta ao mundo da mesma forma que o Brasil. Os mitos, ritos e lendas manifestaram o imaginável algumas vezes coibindo o imaginário e outras vezes o incitando ainda mais. Imagens transformadas em memórias de um povo. A Diversidade exibida por olhares que construíram a identidade imagética da Amazônia como a pobreza na condição de ser civilizado e o exótico na condição de ser explorado.
Carol Velasquez (artista, pesquisadora e mediadora)
O despertar dos corpos espíritos
A pesquisa em arte "O Despertar dos Corpos Espíritos - CHUYMA" propõe uma experiência sensorial e espiritual que se desdobra em múltiplas dimensões de arte, buscando despertar nos participantes uma conexão profunda com suas próprias ancestralidades e com a sabedoria dos povos de Abya Yala. A instalação/proposição é um terreiro simbólico, um ponto de encontro entre o sagrado e o humano, onde se entrelaçam elementos primordiais como barro, sementes, palhas, água florida e apitos — materiais que, através de suas propriedades elementares, ativam os sentidos e transportam o participador para o âmago de uma cosmovisão ancestral. O nome CHUYMA é um conceito profundo da cosmovisão andina que resgata a ideia do "caminhar pelo planeta" com uma percepção expandida do corpo; envolve sentir o pulsar dos órgãos internos — como o coração, os pulmões e o fígado — e, através desse despertar, dançar em sintonia com o cosmos, criando uma ponte entre o físico e o espiritual. Este conceito central orienta todo o processo criativo da artista, que se apropria da arte como uma expressão ritualística ancestral, capaz de descondicionaros padrões do corpo físico e das subjetividades que, ao longo do tempo, foram impostas. A experiência proposta por "O Despertar dos Corpos Espíritos - CHUYMA" não se limita a uma simples visitação, mas se desvela como um processo de transformação e reflexão. Através da arte e da performance, o visitante é convidado a olhar para as suas próprias narrativas e histórias familiares, revelando o "eu coletivo" e dando voz à "multidão espiritual" à qual todos estamos interligados. Ao utilizar a performance como ritual, a artista busca desconstruir e reconstruir os cânones imagéticos da história, questionando as narrativas dominantes e propondo um novo paradigma de expressão e reconciliação. A performance, nesse contexto, torna-se não apenas uma forma de arte, mas uma ferramenta de cura e ressignificação, ativando o corpo, o espírito e a mente para um despertar coletivo.

Lucia Teixeira (UFF)
Corpo, espaço e palavra na exposição de arte
Quarta-Feira, 02/07 às 14h30
Auditório 14 - Prédio de Filosofia e Ciências Sociais
Mediação: Mariana Luz Pessoa de Barros (UFSCar)
Cauê Alves (MAM)
Arte, curadoria e abertura de sentidos

Lucia Teixeira (UFF)
Corpo, espaço e palavra na exposição de arte
O museu de arte é um espaço em que se estabelecem conexões estéticas entre a experiência histórica e singular da vida e os objetos que a representam e constituem, por força de fissuras ou adensamentos dos sistemas significantes das linguagens. A experiência da visita ao museu, que será observada, nesta comunicação, por meio da análise semiótica da prática da curadoria de duas exposições de arte, decorre de situações criadas por organizações espaciais e temporais, que demarcam uma interrupção do fluxo da vida cotidiana, e formas de interação entre os sujeitos envolvidos, que se desenrolam e são encenadas a partir de gestos de apelo e chamamento público. Uma obra de arte é um convite ao diálogo, ao compartilhamento de impressões e experiências. Ela chama, pelos mais diferentes recursos enunciativos e expressivos, o espectador para perto dela, longe dela, chama-o para olhar de frente, de lado, com olhares apressados ou demorados, corpos tensos ou relaxados, palavras de espanto, horror, plenitude. Esses movimentosdo corpo e da voz em torno da obra ou diante dela, no espaço da sala do museu e da galeria, com um percurso a cumprir, feito de coerções, paradas, interrupções, entradas e saídas, pode constituir-se, para o espectador, em torno de sensações de abandono, inquietação, incompreensão. O papel da curadoria numa exposição inscreve-se nessa situação complexa em que o sentido de uma obra de arte poderá estar não no achado poético espetacular de uma pintura ou uma instalação, mas nos pequenos movimentos erráticos que o sujeito faz, em seu percurso de visita, para descobrir que seu contato cotidiano com o mundo, em conexão com a obra que contempla, gera uma experiência transformadora. Textos, informações, cenografias, iluminação são elementos das escolhas e dos gestos interpretativos da curadoria, que intervêm na visita, dotando-a de uma organização narrativa e de uma forma discursiva que pode sobrepor, ao papel mediador de toda intervenção crítica, gestos de animação, sensibilização e afetividade. Para tratar do tema da curadoria, em torno da observação de duas exposições atualmente em exibição no MAC e no Museu Janete Costa de Arte Popular, ambos em Niterói, Rio de Janeiro, os aspectos aqui esboçados serão desenvolvidos com base em conceitos da semiótica que alargam a perspectiva de uma organização linear e implicativa dos textos, práticas e discursos na direção de uma abordagem dos afetos e das interações entre os sujeitos.
Cauê Alves (MAM)
Arte, curadoria e abertura de sentidos
A fala irá abordar a curadoria em artes visuais a partir de seus processos e desafios. O objetivo é refletir sobre a prática da curadoria em espaços institucionais e realizar uma discussão sobre as relações da curadoria com a crítica e a história da arte. Trata-se de uma abordagem que pressupõe a ação curatorial como uma experiência viva no interior do trabalho de arte e que pode suscitar outras experiências, contribuindo para a formação de narrativas históricas. A ideia é que o curador possa aprender e pensar com a arte mais do que sobre a arte, interrogando o mundo e o próprio tempo. Interessa compreender o trabalho do curador de arte a partir das origens históricas da atividade, de seus desdobramentos contemporâneos, assim como refletir sobre a atribuição de sentidos que a curadoria faz em relação a uma obra de arte como abertura para o mundo, ou seja, abordando os trabalhos de arte como originários. Sem pretender esgotar a totalidade dos sentidos de uma obra, a curadoria pode se aproximar da arte a partir da incompletude e da noção de fecundidade. A prática curatorial pode ser uma ação instituinte no sentido em que abre um acontecimento que está por vir e, ao mesmo tempo, prioriza o confronto de ideias sem desconsiderar a infinidade de sentidos que uma obra de arte possa ter de acordo com o contexto expositivo em que ela seja exibida.

Norma Discini (FFLCH- USP)
A literatura e o leitor: a presença interrogada
Quarta-Feira, 02/07 às 14h30
Anfiteatro da Geografia - Prédio de Geografia e História
Mediação: Paulo Demuru (UPM)
Julián Fuks (escritor)
O direito à própria história e a ética do contar

Norma Discini (FFLCH- USP)
A literatura e o leitor: a presença interrogada
Entendendo que a literatura se ancora no gesto de transfigurar o mundo natural por meio de uma linguagem exercida mediante especial descoincidência do signo linguístico com a coisa nomeada – e especial, porque geradora de lacunas a serem preenchidas pelo leitor – interrogamos procedimentos de composição da presença leitora junto a esse campo da atividade humana. O leitor será examinado como o enunciatário responsivo ao fazer persuasivo do enunciador e como o actante da prática interpretativa voltada não apenas para o texto enunciado, mas também para práticas de fronteira com a literatura. Para isso consideram-se os ajustamentos do leitor com o conjunto de significação, que tem no texto literário seu núcleo. Tais ajustamentos trarão à luz o primado da palavra literária. Recrudescida de sensibilidade estésica, tal palavra favorecerá ao leitor a experiência de um acontecimento que o precipitará na esfera extática de um mundo vivenciado como significação intocada. Tais ajustamentos também se comporão ao longo da interação do leitor tanto com a possível relevância da função do suporte do texto literário, como com os discursos e as práticas afins com esse texto constituinte da prática de referência. Na sequência das ações interpretativas projeta-se o possível trato imprimido pelo leitor à porosidade de significação entre a literatura e a historiografia. Ou entre a literatura e gêneros testemunhais como cartas, depoimentos e outros. Exemplares de textos concernentes a tal cotejo serão trazidos à luz. Os fundamentos teóricos estão na semiótica discursiva (Greimas, 2014), na semiótica das práticas (Fontanille, 2008) e na semiótica tensiva de Claude Zilberberg (2011).
Julián Fuks (escritor)
O direito à própria história e a ética do contar
Temos o direito de narrar, como bem entendermos, a nossa própria história? Deve incidir sobre a narrativa resultante desse ímpeto alguma ética quanto ao que se conta, o que se preserva, o que se disfarça, o que se esconde? Das muitas questões latentes no debate literário contemporâneo, essa parece produzir particular exaltação e divergência, rendendo discussões acaloradas, no Brasil como em tantos cantos do mundo. A questão não traz respostas fechadas e definitivas, convidando em vez disso a um olhar aberto às práticas de alguns autores contemporâneos, como Karl Ove Knausgård, Emmanuel Carrère e Annie Ernaux. Um olhar sobretudo franco, já que é a franqueza justamente o que se põe em discussão.

Luiz Tatit (FFLCH-USP)
O campo de presença tensivo
Quinta-Feira, 03/07 às 14h30
Anfiteatro da Geografia - Prédio de Geografia e História
Mediação: Gustavo Bonin (USP)
Verónica Estay Stange (Université Paris Cité)
Ritmo enunciativo y modos de presencia

Luiz Tatit (FFLCH-USP)
O campo de presença tensivo
Do ponto de vista tensivo, o sentido se manifesta num campo de presença onde o ser semiótico estabelece sua apreciação do mundo e dos outros, selecionando e hierarquizando valores que ora são vistos como atraentes ou desejáveis, ora como desprezíveis ou irrelevantes, mas sempre em constante movimento entre esses polos provocado pelas alterações narrativas, enunciativas ou contextuais. O ponto de inflexão é o acento de conteúdo que atinge o seu ápice a partir da modulação pré-acentual e que costuma a se diluir na chamada modulação pós-acentual. No primeiro caso, o que está em jogo é a combinação da alta intensidade afetiva com o aumento da densidade do conteúdo ocasionado pela concentração extensiva. No segundo, é a resolução da ênfase acentual em desdobramentos, geralmente explicativos, que tendem a dissolver ou até dispersar o impacto emocional sentido pelo sujeito. Pretende-se aqui analisar ambos os casos – que, no fundo, representam a interação entre intensidade e extensidade – numa enunciação discursiva jornalística e utilizar os mesmos critérios para descrever uma composição de marchinha carnavalesca. O objetivo final é extrair dessas prosódias vocais (oral e cancional) os elementos básicos para a construção de uma prosódia fundamental, presumivelmente aplicável a todo tipo de linguagem.
Verónica Estay Stange (Université Paris Cité)
Ritmo enunciativo y modos de presencia
El objetivo de esta intervención será explorar las implicaciones del ritmo en los modos de presencia de los sujetos tanto individuales como colectivos. Desde una perspectiva tensiva basada en los trabajos de Claude Zilberberg, abordaré el ritmo no como mera repetición o regularidad métrica, sino como un devenir continuo altamente singularizante: un modo particular de fluir que posee en sí mismo un “sentido” en tanto direccionalidad (ir hacia). La reflexión se nutrirá igualmente de las consideraciones de Emile Benveniste en torno al ritmo y la subjetividad, retomadas por Herni Meschonnic para desarrollar su poética del ritmo. Trataré entonces de mostrar la incidencia del ritmo así concebido no solo en el ámbito de la interacción sensible, cuerpo a cuerpo, sino también en la constitución de los roles temáticos y patémicos del sujeto que permiten su inserción en la colectividad. Asimismo, me concentraré en la dimensión rítmica de los actantes colectivos, en los casos en que se estructuran en torno a formas de vida específicas o en torno a relaciones estésicas asociadas al contagio. Sobre esta base, postularé que la copresencia sensible que hace posible el “estar juntos”, así como la presencia filtrada por el rol temático, son, al menos en parte, de orden rítmico.

Luiza Helena Oliveira da Silva (UFNT/CNPq)
Desqualificar, controlar e punir: diálogos entre Semiótica e Educação
Quinta-Feira, 03/07 às 14h30
Auditório 14 - Prédio de Filosofia e Ciências Sociais
Mediação: Eliane Soares de Lima (UFF)
Vanessa dos Santos Machado (EMEF Tenente José Maria Pinto Duarte)
Desafios da educação pública no século XXI

Luiza Helena Oliveira da Silva (UFNT/CNPq)
Desqualificar, controlar e punir: diálogos entre Semiótica e Educação
Ao longo dos anos, nós, do GESTO (Grupo de Estudos do Sentido), assumimos como vocação primeira pensar as contribuições da semiótica para a prática pedagógica, considerando os desafios que se impõem para formulações que visam a uma didática da leitura. Os interesses entre semiótica e educação que desenvolvemos ali se desdobram ainda em um segundo caminho, o da análise de discursos que agem sobre o ser da escola e seus atores, concebida a escola como um território em disputa de sentidos e de práticas. Partimos do pressuposto de que o campo da prática pedagógica não deve ser restrito a uma questão de metodologia, por melhores que sejam seus fundamentos teórico-práticos, ignorando os condicionantes sociais e políticas educacionais. Uma abordagem teórica é apenas uma ferramenta que sistematiza procedimentos que podem concorrer tanto para dar coerência a práticas quanto para ler dinâmicas e definir estratégias de atuação nos campos político e pedagógico. Nesse sentido, a teoria vai sendo mobilizada para pensar práticas e procedimentos didáticos relativos à leitura, mas também para compreender diferentes dimensões do ensino-aprendizagem, no embate entre discursos e políticas educacionais. É a partir dessa segunda perspectiva que trataremos nessa mesa da ABES, trazendo elementos que apontam para um complexo e crescente processo de controle e de subalternização de professores e professoras na educação básica. Para isso, mobilizamos principalmente categorias relativas à sintaxe narrativa e aos regimes de interação e de sentido. Na medida em que se investe na programação de aulas, na plataformização e no excessivo controle da prática pedagógica, o(a)professor(a) passa à condição de mero operador, perdendo seu estatuto de sujeito investido de um saber e um poder fazer.
Vanessa dos Santos Machado (EMEF Tenente José Maria Pinto Duarte)
Desafios da educação pública no século XXI
A fala aborda os desafios de minha atuação como coordenadora pedagógica dos anos finais do Ensino Fundamental de uma escola municipal da cidade de São Paulo, no exercício de duas funções fundamentais para o desenvolvimento pleno de estudantes cognitivamente diversos e oriundos de experiências sociais, de gênero e racialmente distintas: a formação em serviço dos professores e a mediação de conflitos discentes que envolvem machismo, racismo, lgtbtfobia e bullying. A ideia da ação formativa é promover práticas de ensino voltadas ao desenvolvimento dos conhecimentos formais das disciplinas escolares, considerando que a maior parte do alunado terá a escola como única via de acesso aos mesmos, e à visibilidade da realidade e dos sujeitos historicamente marginalizados no currículo pedagógico, de modo a garantir uma formação crítica, e não moralista, dos estudantes. A mediação dos conflitos envolve momentos reflexivos com os estudantes, a busca pela restauração dos vínculos e, quando necessário, a aplicação de sanções. A formação dos professores tem papel chave no trabalho, pois, na medida em que se desdobra, em sala de aula, em práticas de ensino decoloniais, tende a contribuir para a redução dos conflitos pautados em relações de poder entre os adolescentes. Não obstante, uma série de condicionantes dificultam o trabalho formativo, com destaque ao problema de nem todos os professores terem o direito, ou a obrigação, de acessar a jornada de trabalho que proporciona a formação continuada docente.

Maria Giulia Dondero (FNRS/ULiège)
Composição visual e estilo em IA generativa: uma questão de enunciação
IA generativa, autoria distribuída e instâncias de enunciação
Quinta-Feira, 03/07 às 14h30
Auditório Nicolau Sevcenko - Prédio de Geografia e História
João Queiroz (UFJF)
IA generativa e a autoria como legisigno-em-ação

Maria Giulia Dondero (FNRS/ULiège)
Composição visual e estilo em IA generativa: uma questão de enunciação
Minha intervenção é composta por dois eixos. O primeiro visa compreender que nível de criatividade pode ser atribuído às inteligências artificiais generativas (IAG), como MidJourney e DALL·E, no âmbito das regras de composição de imagens; o segundo busca descrever a noção de estilo enunciativo tal como foi transformada por essas IAG. Inicialmente, estudarei de que maneira os prompts e as regras de composição entram em conflito entre si, e como os resultados do ato de geração dependem, em parte, do fator aleatório que está na base de cada geração de imagem. Em um segundo momento, analisarei o surgimento de estereótipos visuais a partir das bases de dados que disponibilizam ao usuário diversos estilos (pictóricos, gráficos e fotográficos) reconhecidos e sedimentados em nossa cultura visual. De fato, quando se insere um prompt com referência a um artista ou estilo, o modelo faz implicitamente referência, para produzir uma imagem, a todas as imagens da base de dados associadas às palavras presentes no prompt. O modelo realiza uma espécie de abstração de traços salientes de cada estilo e, assim, gera as imagens. Repetindo várias vezes um mesmo prompt, obtêm-se imagens sempre diferentes. Explicarei essa variação de imagens por meio do que chamo de “estilo regional”, ou seja, os padrões pertencentes a uma região da base de dados acionada pelo prompt em questão. Esse estilo regional será distinguido do “estilo global”, próprio de cada modelo. Com efeito, MidJourney e DALL·E, desenvolvidos com bases de dados e sistemas distintos, imprimem um estilo específico a todas as imagens geradas. Nesse contexto, partindo de formas conhecidas da tradição artística, será possível estimar o nível de estereotipia das formas produzidas pela IAG, bem como o grau de criatividade dos diferentes modelos. Essas experiências permitirão, por fim, estudar como a agentividade enunciativa se distribui entre as bases de dados, os algoritmos, os prompts, o aleatório maquínico, assim como compreender concretamente as transformações da práxis enunciativa ao longo do tempo.
João Queiroz (UFJF)
IA generativa e a autoria como legisigno-em-ação
Como conceber a relação entre autoria e artefato como processo semiótico (semiosis)? Que implicações uma concepção relacionada a uma ontologia semiótica de processos pode ter quando a autoria é uma IA generativa (IAG)? Vou explorar a ideia de que a autoria é um legisigno-em-ação distribuído, irredutível a eventos singulares e a propriedades e estados de agentes. A autoria é uma fase do locus temporal de ação do legisigno “autoria”. Tenho explorado diversas consequências desse modelo, que reontologiza entidades como “autor”, “artefato”, “obra literária”, “obra de arte” e reorganiza a imagem do fenômeno “autoria” como distribuição temporal. Está no centro de minha argumentação a noção de “semiose externalista ativa”. Ela rejeita o poder explanatório da dualidade interna versus externa, como “intenção” (agente) que determina um resultado externo (artefato). Em uma semiótica externalista de processos, não existe um artefato, de um lado, e um(a) autor(a) dotado(a) de mente e intenção, de outro. Ao invés disso, a autoria é um processo semiótico externo, emergente, e auto-organizado. Aqui, este modelo vai servir a dois propósitos, teórico e criativo-generativo: (i) caracterização da obra (literatura ou arte), e sua autoria, como fenômeno semiótico externo e distribuído, e (ii) IA generativa (e.g. GEMINI, GPT, DeepSeek) como coautora do poema idade/ity/ité, uma recriação, através de princípios macroscópicos de constrangimento formal concebidos por Augusto de Campos, do poema cidade/city/cité.

Ivo A. Ibri (Centro de Estudos de Pragmatismo – PUC-SP)
Semiótica e Heurística A Metáfora do Lago sem Fundo de Peirce
Sexta-Feira, 04/07 às 14h30
Auditório Nicolau Sevcenko - Prédio de Geografia e História
Mediação: Eneus Trindade (ECA_USP)
Lucrécia d´Alessio Ferrara (PUC-SP)
Da atualidade da semiótica à semiótica da atualidade

Ivo A. Ibri (Centro de Estudos de Pragmatismo – PUC-SP)
Semiótica e Heurística – A Metáfora do Lago sem Fundo de Peirce
Neste ensaio pretendo partir da metáfora denominada por Peirce the bottomless lake of consciousness, onde ele desenvolve como as possibilidades heurísticas da mente se valem de uma espécie de mergulho, consciente ou inconsciente, no universo de signos disponíveis na interioridade humana, onde ela passiva ou ativamente encontra relações inéditas entre eles, caracterizando um processo de criatividade que se desenha por possibilidades inusitadas de combinações semióticas, a saber, de significações reais ou meramente imaginárias. Essa distinção entre realidade e ficção irá se nutrir de signos que são, de um lado, excitados por um contexto de realidade externo à mente e, de outro, de signos aptos a romper com tal contexto e retirar do real o que o extravasa e não cabe em linguagens de natureza lógica. Em ambos se poderia pensar, como se faz em alguns estudos sobre criatividade, em processos abdutivos, a saber, de modos de formulação de novas ideias, conforme propõe Peirce. Sob este foco, procurarei distinguir como uma eventual dupla face da Abdução ocorreria pela formação de teorias científicas, comprometidas com descrições de recortes de uma dada realidade, por um viés, e, por outro, pelas obras de arte, cujo tarefa se consuma em pensar mundos meramente possíveis.
Lucrécia d´Alessio Ferrara (PUC-SP)
Da atualidade da semiótica à semiótica da atualidade
Considerando o contexto técnico, social e político que assinalou o panorama cultural decorrente da Iº Revolução Industrial e a produção científica que a acompanhou, esse trabalho estuda semelhanças e diferenças encontradas na comparação entre as obras de Charles Sanders Peirce e Gilbert Simondon. Nesse possível diálogo, procura-se compreender as semióticas traçadas para ser possível desenhar o contemporâneo dos respectivos momentos históricos daqueles autores, mas o objetivo do trabalho concentra-se na tentativa de descobrir, naquelas semióticas, e respectivas estruturas lógica e fenomenológica para entender o contemporâneo do século XXI. Portanto, procura-se superar a incontestável atualidade dos estudos semióticos, para ser possível ir além deles e traçar uma semiótica da atualidade.

Isabelle Klock-Fontanille (UniLim, CeReS)
Les métamorphoses de l’écriture. Esquisse d’une typologie des modes de présence de l’écriture dans les sociétés et les cultures
Sexta-Feira, 04/07 às 14h30
Anfiteatro da Geografia - Prédio de Geografia e História
Mediação: Juliana Di Fiori Pondian (UFF)
Pedro de Niemeyer Cesarino (FFLCH-USP)
Sobre os mundos múltiplos: signo, enunciação
e referência nos xamanismos ameríndios

Isabelle Klock-Fontanille (UniLim, CeReS)
Les métamorphoses de l’écriture.
Esquisse d’une typologie des modes de présence de l’écriture dans les sociétés et les cultures
Selon le rôle que la société lui assigne, l’écriture se métamorphose à volonté. A chaque moment de l’Histoire, au sein de chaque culture, la fonction spécifique du texte et des supports détermine en grande partie sa formulation visuelle ou scripturale. Car l’écriture assume deux familles de fonctions : des fonctions glossiques et des fonctions grammatologiques (les signes graphiques assument une fonction sémiotique rendue possible par leurs potentialités iconiques). La réintroduction de l’image et la prise en compte de l’espace ont permis à la sémiotique de trouver une entrée dans ce domaine de l’écriture (dès l’étude de Greimas « Sémiotique figurative et sémiotique plastique », parue en 1984). Néanmoins, les premiers travaux relevant de la sémiotique de l’écriture ont été le fait d’africanistes qui ont d’emblée montré que le dialogue était nécessaire avec les autres disciplines, notamment autour des figurations iconiques. L’écriture ne peut pas être étudiée selon un paradigme unique : elle est un problème linguistique (le lien avec la langue), sémiotique (le lien avec l’image, la prise en compte de la nature iconique de l’écriture, le lien avec l’espace), anthropologique (le lien avec la société). L’écriture possède des propriétés internes et des types d’échanges avec d’autres sémiotiques : elle est un déclencheur de transposition intersémiotique du graphisme vers une ou plusieurs des pratiques du langage verbal, ainsi que vers d’autres pratiques associées. Cette conception ouvre des perspectives de dialogue fécondes avec la problématique des formants : les formants de l’écriture non seulement sont inséparables de la pratique et de la technique d’écriture mais ils sont aussi le point de bascule entre la valeur linguistique des caractères et la dimension iconique du graphisme. Nous nous proposons d’étudier ces transpositions et d’esquisser une typologie des modes de présences qu’elles permettent de créer.
Pedro de Niemeyer Cesarino (FFLCH-USP)
Sobre os mundos múltiplos: signo, enunciação e referência nos xamanismos ameríndios
A apresentação tratará de alguns dilemas conceituais envolvidos no estudo dos regimes xamanísticos de enunciação. Tais problemas orbitam em torno do estatuto da referência e da variação de posições, com consequências gerais para a compreensão do regime de significação dos xamanismos ameríndios e de outras questões associadas. Pretende-se mostrar por quais razões tal regime é incompatível com alguns dos fundamentos das teorias ocidentais da linguagem e do discurso relacionados ao problema da referência, do paradoxo da cópula e da divisão entre logologia e ontologia.