


Oficinas
Todas as oficinas serão ministradas no dia 1º Julho, das 8h30 às 10h00.
Acompanhe as outras atividades do congresso pela programação.
A Semiótica da Cultura e os estudos de contextos e dinâmicas culturais
Ministrante: Nilton Faria de Carvalho (Pós-doutorando ECA/USP)
Local: Sala 212 (Prédio de Letras)
O objetivo desta oficina é compreender as contribuições da Semiótica da Cultura de Iuri Lotman nas análises e estudos acerca de contextos e dinâmicas culturais diversas. Ao abordar conceitos como semiosfera, texto cultural e memória, presentes no pensamento do autor russo, a oficina sugere o entendimento de fenômenos presentes na atualidade. Das linguagens midiáticas e novas tecnologias digitais aos movimentos sociais que nascem nos bairros populares, a ideia é que os participantes se apropriem de alguns conceitos da Semiótica da Cultura para compreender diferentes objetos de estudo.
IA, Semiótica e Pesquisa Científica: Escrita e Leitura com Máquinas
Ministrante: Fabiana Raulino (Doutoranda PUC-SP)
Local: Sala 109 (Prédio de Letras)
Nesta oficina, exploraremos a interseção entre inteligência artificial generativa, pesquisa científica e os fundamentos da semiótica, com foco na engenharia de prompt como forma de mediação entre linguagens humanas e computacionais. A partir da articulação entre os modelos de linguagem (como o ChatGPT) e as matrizes semióticas de significação, propomos um mergulho em como as máquinas interpretam, produzem e reorganizam o conhecimento científico. Serão apresentadas estratégias para otimizar a busca, análise e produção científica com IA, utilizando ferramentas como Consensus, Perplexity, Connected Papers, Research Rabbit e o próprio ChatGPT, em seus usos avançados com instruções contextuais e arquiteturas de prompts. A perspectiva semiótica será trabalhada a partir das matrizes de linguagem de Lucia Santaella, relacionando-as aos conceitos de tokenização, embedding e atenção nos modelos Transformer, para compreender como operam as tecnologias de linguagem em sua estrutura simbólica. Com foco prático e epistemológico, a oficina é voltada a pesquisadores, professores e estudantes que desejam incorporar a IA como uma parceira crítica e criativa no processo de investigação acadêmica e produção de sentido.
O corpo na literatura
Ministrante: Juliana Ángel-Osorno (Doutora FFLCH-USP)
Local: Sala 271 (Prédio de Letras)
Pode-se ler um conto sem ter um corpo? E escrevê-lo? E podem os personagens existir sem corpos? E o narrador, tem corpo ou é apenas uma voz? Existe voz sem corpo? Que corpos são esses que fazem a literatura? Nesta oficina, proponho uma leitura do conto “Voz ao telefone” de Silvina Ocampo (Argentina, 1903-1993) a partir das premissas da semiótica das interações, particularmente a partir do conceito de corporeamento. No conto, que faz parte do livro A Fúria, um homem rememora, ao telefone, uma festa de aniversário que sua mãe organizou para ele na casa de sua família e que terminou de forma trágica. Na oficina, serão apresentados os conceitos de mente corporeada (Varela, Thompson & Rosch 1991) e de imaginação corporeada (Medina 2013), e será discutido como eles se situam dentro de uma área mais ampla conhecida como semiótica das interações. A partir dos conceitos, discutiremos como é possível pensar a imaginação (literária ou de outra ordem) para além da ideia de representação ou imagem mental. Para isso, colocaremos à prova os conceitos de mente e imaginação corporeada por meio da análise que faremos coletivamente do conto, com o intuito de explorar as perguntas acima. A oficina propõe um trabalho de análise do texto atravessando todos os níveis narrativos, do nível dos personagens até o nível da interação leitor-autor-texto. A partir dos dados achados no conto e da nossa interação coletiva com o texto, analisaremos como o corpo é fundamental e necessário para o processo semiótico da escrita-leitura e mais amplamente para a imaginação. Não é necessária nenhuma leitura prévia para participar da oficina, apenas o interesse e caneta ou lápis para fazer anotações.
Semiótica aplicada aos signos marcários
Ministrantes: Clotilde Perez, Bruno Pompeu, Silvio Sato, Rafael Orlandini e André Peruzzo (ECA USP)
Local: Sala 112 (Prédio de Letras)
A oficina propõe uma abordagem teórico-prática da semiótica peirceana aplicada ao universo dos signos marcários, com ênfase na análise das expressividades construídas pelas marcas atualmente. A primeira etapa contempla uma contextualização crítica do fenômeno marca, concebido como um dispositivo semiótico complexo que mobiliza um repertório cada vez mais diversificado de signos — visuais, verbais, cromáticos, sonoros, táteis e espaciais — na construção de significados, e que extrapolam sua origem mercadológica e se disseminam amplamente nas práticas socioculturais. Na sequência, serão retomados os fundamentos teóricos da semiótica de Charles Sanders Peirce, com especial atenção às categorias fenomenológicas (primeiridade, secundidade e terceiridade) e às tríades que estruturam sua teoria dos signos (signo, objeto, interpretante; ícone, índice, símbolo; entre outras). A partir desse referencial, será apresentado um roteiro metodológico que orienta a análise das expressividades marcárias, considerando suas dimensões qualitativo-icônicas, singular-indiciais e convencional-simbólicas. Tal roteiro será exemplificado por meio de cases práticos, que evidenciam os diferentes modos de produção de sentido, valor e diferenciação mobilizados pelas marcas, de acordo com seus respectivos contextos culturais e de mercado. Na etapa final, os participantes serão convidados a aplicar o método apresentado em uma atividade prática de análise, a fim de desenvolver um olhar ampliado sobre os processos de construção sígnica no universo marcário contemporâneo.
Semiótica Discursiva, racismo e personagens negras na literatura
Ministrante: Eduardo Prachedes Queiroz (Doutorando FFLCH-USP)
Local: Sala 270 (Prédio de Letras)
Na presente oficina, trabalharemos com a Semiótica Discursiva com o propósito de mostrar como essa teoria pode fornecer subsídios e contribuir para discussões prementes na sociedade brasileira – notadamente, neste caso, aquelas a respeito de raça e racismo – dispondo de um ferramental sólido para a análise de textos e seus discursos. Para mostrar a produtividade desse ferramental teórico, analisaremos trechos de textos literários, como o romance O Cortiço (1890), de autoria de Aluísio Azevedo, e o cordel “Maria Felipa”, publicado no livro Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (2017), de Jarid Arraes. Para cumprir com o objetivo proposto, a oficina se dividirá em três etapas. A primeira diz respeito a uma breve conceituação teórica, momento em que serão apresentadas as noções de papéis actanciais, os processos de tematização e figurativização e o conceito de isotopia. Na segunda etapa, passaremos a discutir os temas associados a personagens negras no romance e no cordel examinados, bem como a construção figurativa de algumas dessas personagens negras. Durante os exames dessas construções discursivas, verificaremos como se dão as aproximações e os afastamentos com relação a estereótipos largamente reconhecidos, como o da mulata sensual e o da negra serviçal, os quais correspondem, se levarmos em conta as considerações de Lélia Gonzales em artigo chamado “Racismo e sexismo na cultura brasileira” (1984), à dupla imagem da mulher negra na sociedade brasileira. Na terceira e última etapa, trataremos das características de agência ou passividade das personagens negras sob análise, momento em que examinaremos as estratégias utilizadas para a valorização positiva de personagens negras enquanto heroínas.